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Foto do escritorSeminário Nossa Senhora das Dores

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Depois de meditar alguns domingos o capítulo sexto do Evangelho segundo João, o discurso sobre o “Pão da Vida”, a liturgia retoma, neste 22º Domingo do Tempo Comum, o Evangelho de Marcos. Somos chamados a pensar, hoje, no modo de viver a fé cristã, como verdadeiros discípulos de Jesus, conformando as nossas práticas e intenções à vontade daquele que seguimos e por quem devemos entregar a vida.

No relato de Marcos, os fariseus e escribas, grupos fiéis aos costumes dos judeus, criticam o modo como agem os discípulos de Jesus, que prescindem de algumas normas rituais importantes para a comunidade. Porém, ao questionarem Jesus, este aponta para um problema muito mais sério presente na vida daqueles que buscavam confrontá-lo: “Vós abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição dos homens” (Mc 7, 8). Eram pessoas muito obedientes aos costumes, às regras, mas com isso acabaram prestando demasiada atenção aos detalhes e esquecendo-se do principal, que era a prática sincera da vontade de Deus no exercício concreto do amor, da bondade, da misericórdia.

Jesus não veio para abolir a Lei, ele mesmo deixou isso claro em sua pregação. Ao contrário, veio para dar-lhe pleno cumprimento, revelando definitivamente os desígnios do Pai (cf. 5, 17). Também não era contra a vivência religiosa com seus ritos: ia ao templo, rezava, celebrava a Páscoa... Mas mostrou que os ritos e costumes não podem tomar o lugar mesmo de Deus, como se a salvação fosse mérito do nosso agir e não fruto do amor gratuito dele. Ainda, ressaltou a necessária coerência entre aquilo que fazemos e cremos, enfatizando que é na interioridade do nosso ser onde se manifestam os verdadeiros propósitos e intenções.

Os grupos judaicos caíram no grande risco de se preocuparem mais com a exterioridade que com a santidade do coração. Com isso, todo seu esforço de pureza e conformidade com a Lei tornou-se vazio de significado. Mas é preciso ficarmos atentos, pois nós, cristãos católicos, podemos igualmente cair na hipocrisia de não vivermos aquilo que acreditamos e rezamos (lex orandi, lex credendi, lex vivendi): também para nós há o risco de reduzir a fé a algumas práticas religiosas formalísticas ou a projetos sociais e estruturas pastorais que mais correspondem aos nossos anseios que às reais necessidades das pessoas e da Igreja.

Deus conhece o mais íntimo de nós e é lá que devemos mostrar o que realmente somos. Isso não invalida nossas celebrações, orações e práticas pastorais nem nos faz cair num subjetivismo religioso, mas nos impele a não reduzirmos a fé a “coisas a fazer” e a darmos às nossas atividades o sentido que vem da relação pessoal e íntima com o Senhor. Com efeito, o nosso louvor será mais pleno e a nossa ação mais fecunda quando reconhecermos verdadeiramente que Deus está conosco e que nós estamos com ele (cf. Dt 4, 7); quando entendermos que a vivência religiosa só tem sentido se aderirmos integralmente à proposta do Evangelho (cf. Tg 1, 27); quando tomarmos consciência de que fomos salvos e redimidos por Jesus Cristo e que a nossa prática é sempre resposta e fruto do amor que ele primeiro nos ofereceu (cf. Tg 1, 17); quando vivermos os mandamentos de Deus não como obrigações pesadas, mas como instrumento da nossa liberdade e proximidade com o Senhor (cf. Dt 4, 8); quando experimentarmos o amor em sua totalidade: como entrega, doação, gratuidade e serviço.


Gabriel Henrique da Silva - 2º ano da comunidade teológica


Imagem: Coração da Trindade - Eduardo Silva, Comunidade Shalom

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