Com o mesmo olhar de São Francisco de Assis, o idealizador da imagem do presépio, contemplamos a grande simplicidade e vulnerabilidade de Deus que se encarna. No Menino deitado sobre a palha, cuidado por seus pobres pais e cercado de animais, vemos o que Paulo teria escrito à comunidade dos Filipenses (2,6-7), e que cantamos na celebração da Liturgia das Horas nas as quatro semanas do Saltério: “Embora fosse de divina condição,/ Cristo Jesus não se apegou ciosamente/ a ser igual em natureza a Deus Pai./ Porém esvaziou-se de sua glória/ e assumiu a condição de um escravo,/ fazendo-se aos homens semelhante.”
Não só vemos, mas também falamos sempre dessa simplicidade, pobreza e vulnerabilidade a que Deus se submeteu, por amor de todo o gênero humano. Nas mensagens de Natal, nas novenas em família, nas celebrações Eucarísticas, e até nas ocasiões em que fazemos nossas doações para os que mais precisam, identificando-os com o Cristo Nascente, o prometido que veio sem um lugar para nascer (Lc 21-20). E tudo isso é muito importante, para que nos seja clara a condição do Messias que seguimos e que nos apresentou uma face de Deus que antes era desconhecida.
Neste ano, porém, fomos chamados a também nos encarnarmos. Talvez Jesus se tenha cansado de ser falado por bocas que romantizaram a sua pobreza e vulnerabilidade, mas que delas queriam distância,negando assim a própria humanidade.Porque no fundo Jesus revela o que é o ser humano ao próprio ser humano, como nos ensina a Constituição Pastoral GaudiumetSpes (n. 22), do Concílio Vaticano II.
Eis que fomos colocados no nosso lugar, diante da nossa fraqueza e limitação, que são muito mais profundas do que as que estamos percebemos biologicamente; são também espirituais.E não podem ser preenchidas por dinheiro, pelos cargos que ocupamos ou por qualquer espécie de “poder” terreno. Só Deus pode preencher a lacuna que existe em nós, como nos ensinou o Pe. Rahner (existencial-sobrenatural).
Assim, neste ano temos condições de contemplar a glória de Deus que se encarnou, e que historicamente compete um pouquinho menos com a pretensa glória humana. Que no lar de cada um de nós sejamos capazes de contemplar a presença da Luz do Natal, que quer iluminar a nossa escuridão. Que a celebração dessa grande festa neste ano de 2020 nos fortaleça ainda mais a fé naquele diante do qual, mesmo deitado em um coxo e chorando por passar a noite ao relento, “toda língua reconhece confessando,/ para a glória de Deus Pai e seu louvor:/ ‘Na verdade, Jesus Cristo é o Senhor!’” (Fl 2,11).
Sandro Araujo
3º ano da Etapa da Configuração - Teologia
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