Concluindo o Tempo Pascal, celebramos Pentecostes, a descida do Espírito Santo. Mais do que uma recordação, o dia da festa do “Hóspede da alma” é uma afirmação da força da Igreja e um convite a reavivar sua ação evangelizadora no mundo, sendo também “doce alívio” para os homens. Antes, a festa de Pentecostes para os judeus era a comemoração dos dons recebidos pela fertilidade da terra, um agradecimento pelos grãos, e posteriormente tornou-se a festa da Lei, da constituição do Povo de Israel. Agora, em Cristo Ressuscitado, Pentecostes é a festa da nova aliança, da nova comunidade formada e impulsionada pelo mistério pascal de Jesus.
A ação do Espírito que desceu sobre Maria para a Encarnação do Verbo, unifica agora em Cristo uma diversidade infinita de pessoas com dons e carismas. A Igreja é comunidade que nasce de Jesus Ressuscitado e é assistida pelo Espírito, é o Paráclito que dá coragem, faz com que saiamos do cenáculo e abramos as portas sem medo, ultrapassando a diferença e comunicando esse amor que aquece nosso interior; faz uma “Igreja em saída” (EG 20). O que antes em Babel (Gn 11, 1-9) era causa de confusão pela diversidade de línguas, marcando o egoísmo e autossuficiência do ser humano, o Espírito transforma em riqueza com todos compreendendo a mensagem de Cristo em seu idioma. Esse fato narrado nos Atos dos Apóstolos (2, 1-11) não deve ficar reduzido ao extraordinário, mas deve acentuar o valor da história e da cultura de cada povo. Ninguém deve ser agredido por sua cultura, seja europeu, sul-americano, africano, indígena, negro ou branco; a cultura não é ponto de divergência e preconceito, mas terreno fértil para semear e descobrir a presença rica e diversa de Deus. Todos os povos, todas as culturas devem ser acrescidas proficuamente com a Boa Nova de Jesus.
O elemento carismático é constitutivo da identidade da Igreja. Isso quer dizer que Cristo se serve tanto das autoridades que dirigem a Igreja pelo Espírito, como também de vários homens e mulheres que colocam seus dons e carismas a serviço da Igreja e da consolidação do Reino de Deus, ultrapassando limites que aprisionam o Espírito. Todos os cristãos possuem dons e carismas oriundos do Espírito, e o verdadeiro carisma é aquele que afirma que Jesus é o Senhor e contribui para o bem e crescimento da comunidade. É o alerta feito por São Paulo (1Cor 12, 3b-7. 12-13), ao enfatizar a diversidade de dons e carismas e a unidade de todos no Cristo Cabeça. Todos devem colocar seus dons e carismas a serviço da comunidade para manter saudável o corpo de Cristo, a Igreja, da qual cada um de nós é membro único e valioso.
É sempre necessário recordar e enfatizar que é o Espírito que dá identidade à Igreja, é o Ressuscitado que sopra sobre os Apóstolos para que, recebendo o Paráclito, saiam em missão. Deve-se sempre ter a consciência e a coragem de correr riscos, questionar até que ponto é possível ir e repensar as possibilidades de anúncio do Evangelho, ainda mais em um tempo desafiador que exige renovação. É a capacidade de se abrir à ação do Espírito Santo, porque é Ele que impulsiona e dá força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia, como nos motiva o Papa Francisco (EG 259) e também com fidelidade à Igreja. Quando Paulo, na carta aos Tessalonicenses (1Ts 5, 19), adverte para que não se extinga o Espírito, ele quer enfatizar o perigo de sufocar a sua ação em nós e no mundo, porque existem muitos dons, mas ninguém recebeu e é detentor de todos. Que ao celebrar Pentecostes possamos sempre mais nos abrir à novidade do Espírito, valorizar a riqueza e diversidade na unidade, contribuindo para sua ação fortalecedora e renovadora na Igreja e no mundo.
Guilherme Santos Nogueira
Iuri de Carvalho Santos
Seminaristas do I ano da etapa Configurativa (Teologia)
Arte: “Pentecôte Colombe” de Macha Chmakoff.
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