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SOBRE A SANTIFICAÇÃO DO CLERO

Foto do escritor: Seminário Nossa Senhora das DoresSeminário Nossa Senhora das Dores

As sementes que caem na terra não estão entregues ao acaso. Ali elas repousam porque as mãos do semeador preparam um espaço específico para testemunhar, no tempo e no espaço, o fenômeno da vida acontecendo no hoje da esperança. Envolvida pelos braços da Mãe Terra, a semente experimenta a escuridão e o vazio, até que morre. Contudo, mais do que um declinar para a cessação do seu existir, a sua morte representa o início de um novo processo que culminará na geração de vida, pois "se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12, 24). É por isso que nós devemos florir onde formos plantados.

Foi assim que Dom Othon Motta se apresentou ao Povo de Deus peregrino na Sé Campanhense: como alguém disposto a florir na terra onde o Senhor havia plantado o seu coração. Celebrando o 36º aniversário da páscoa desse Servo de Deus, queremos fazer memória do seu testemunho de vida santa, pedindo a Cristo, o Bom Pastor, que nos dê a graça de vivermos conforme o seu Divino Coração.


SOBRE A SANTIFICAÇÃO DO CLERO, por Dom Othon Motta

Rio de Janeiro, 12 de abril de 1950


Desde a inflamada prece de Jesus na última Ceia – Pater, sanctificaeos in veritate – até o dia de hoje, esta tem sido a preocupação da Igreja. Papas e Concílios, Bispos e Doutores procuraram realizá-la em todos os tempos com zelo e fervor sem par.

Sublime é a missão do Sacerdote sobre a terra. [...] Sal da terra será fatalmente pisado pelos homens como vaticinara Jesus, se não se encher da graça divina. Luz do mundo, a verdade que pregar não conseguia romper as trevas da maldade se o exemplo não lhe prestar a eloquência de sua força consoante a queixa de S. Paulo a Tito – confitentur se nosso Deum factis autem negant.

[...] pescador do alto mar, o padre se vê na contingência de erguer o edifício espiritual de sua alma no meio de tempestades e tentações do mundo e da carne, ao lado de lutas íntimas. Num mundo materializado onde os sentidos embrutecem o homem na satisfação de paixões aviltantes, ele é conclamado à vida espiritual na prática de virtudes heroicas. Cercado de maus exemplos numa terra em que os valores eternos são desprezados, onde tudo é terra e da terra, ele deve fincar as bases do reino dos céus. Verdadeiro piraneta voando sobre chamas, diária S. Francisco de Sales. Esta é, na verdade, a situação do padre no mundo. Ingrata, por certo, pois é muito difícil desabrochar brancura de lírios num pantanal de vícios. Daí a solicitude da Igreja em formar bem os clérigos nos seminários, através da educação cuidadosa e escrupulosa de anos e anos.

O segredo da santificação do clero reside, todavia, no esforço empregado no tempo do Seminário. Quando há piedade sincera e temor de Deus, quando há verdadeira formação de consciência ao lado de esclarecida disciplina, o Padre sai do Seminário armado de couraça impenetrável. Poderá haver exceções, mas em regra geral o seminarista piedoso também o será depois de sacerdote. Maior castigo para a Igreja de Deus é haver Seminários que descuidem da formação do clero.

Mil vezes melhor não haver Seminários do que aparecerem por aí fábricas de homens de batina sem o verdadeiro espírito de Nosso Senhor. Aliás, recente episódio mostra ser também este o pensamento de Pio XII, que providencialmente governa a Igreja de Deus.

No começo deste ano santo, piedoso Bispo brasileiro foi recebido pelo Santo Padre. No meio da audiência perguntou-lhe o Sumo Pontífice:

- Como vai o seu Seminário?

- Vai mais ou menos, Santidade.

Disse-lhe então o Papa: feche-o, pois deve ir muito bem. E acrescentou: Não tenha receio em sacrificar tudo em seu benefício.

[...] Portanto, o primeiro passo para a santificação do clero está nas mãos dos Bispos, que não devem poupar esforços no empenho de transformar os Seminários em verdadeiras sementeiras.

[...] No silêncio do Seminário a semente do amor à vida de oração e de união com Deus encontra terreno para uma floração esplêndida. [...] Eis a vida interior em toda a sua pujança, que é santidade, vida de oração, vida de piedade e de amor de Deus, assemelhando-se ao grão de mostarda já no esplendor de uma árvore a cuja sombra as aves do céu se agasalham. Vida interior que é arma, escudo e defesa no bom combate para os perigos da vida sacerdotal.



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