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  • Foto do escritorSeminário Nossa Senhora das Dores

Reinventar-se e reinventar a esperança!

Respira. É chegado mais um momento, desses que simbolicamente as pessoas colocam como fronteiras, ou para alguns como mera continuidade. Repete-se mais uma vez outro ciclo de mudanças, de uma maneira geral, no universo temporal, o que provoca cada pessoa a reinventar-se, ainda que momentaneamente. É verdade que as autênticas mudanças não se dão do dia para a noite ou em um passe de mágica, mas são preparadas e forjadas dia a dia, no enfrentamento daquilo que lhe há de mais contingente e que não pode criar terreno perene em suas vidas. Fim de mais um ano civil, início de outro. Ok, não foi um ano como os demais. Aliás, foi atípico, incomum, assombroso. Não houve guerras, mas o cenário bélico está armado.

A sensação que se tem ao término desse ano turbulento, talvez seja de frustração por aquilo que se perdeu. O que se sentiu em nível mundial, é vivido todos os dias, de modo aleatório por muitas pessoas, em suas lutas diárias, problemas financeiros, doenças, crises... uma vez lá e outra cá, nenhuma época da existência humana foi privada de instabilidades emocionais, psicológicas e espirituais. O choque global da pandemia é um reflexo potencializado a nível geral daquilo que é a experiência humana em sua total fragilidade diante dos acontecimentos da história. A nada se pode comparar épocas, fatos ou pessoas, pois cada qual em seu contexto vivencia de modo sui generis aquilo que se lhe manifesta pelos fenômenos à sua volta. Mas o sentimento de comoção a que a humanidade se submeteu, sem dúvida, é considerável!

Aqui estamos nós, vivendo tal situação. É bem verdade que o desafio se impôs a nós exige uma reelaboração integral. E há quem deixe essa ocasião passar despercebida. Etty Hillesum, uma judia que enfrentou os horrores dos campos de concentração, concede as pessoas de nosso tempo seu aprendizado a partir da arte da escuta, o que é relatado em seu Diário. O mundo caótico pode e deve ser reinventado a partir de dentro, da escuta do Eterno e de si, para uma revitalização das relações com o outro que se manifesta diante de cada ser humano. A paz interior vai além de qualquer situação exterior e dela não depende. O exemplo dos mártires é evidente, nenhuma tribulação lhes abateu o ânimo ou a paz da alma.

O nascimento do Menino Jesus é luzeiro que alerta para o ser humano fixar os olhos na simplicidade da criança ou dos “lírios do campo”, diante de tantas informações e desinformações. Para não se tornar mero espectador da morte e do medo, a estrela da fecunda esperança brilha, não no horizonte, mas no coração de cada filho de Deus. Não reluz para si somente, mas para os outros que ainda estão sob os entulhos de uma época que, urgentemente, precisa buscar o essencial e abandonar o supérfluo. Nesse campo de batalha, onde todos saíram, de algum modo, feridos, e outros continuam na luta, a esperança insiste em ser farol vindo de todos os que, em sua essência, são Imago Dei.

O reinventar da esperança nas ocasiões de caos e medo, que Hillesum manifesta, não é experiência privada, mas possibilidade viva a cada pessoa humana. Acredite, a esperança faz-se choro de criança na manjedoura, basta silenciar-se para escutar. “Escutar, escutar por toda a parte, escutar até ao mais profundo dos seres e das coisas. Amar e largar aqueles que amo, aceitar assim morrer, mas para renascer – tudo isso é tão doloroso, mas também tão pleno de vida!” (Etty Hillesum). Respire!


Cleyton W. Fernandes

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